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Lago de Itaipu: um mar de água doce

Um dos maiores lagos artificiais do Brasil, três vezes maior que a Baía de Guanabara, com uma área de 1350 km², o reservatório de Itaipu começou a ser formado na década de 1970. Hoje, 50 anos depois, lindo e cheio de vida, começa a se tornar um importante polo de turismo náutico brasileiro

Nos anos de 1970, quando os governos do Brasil e do Paraguai assinaram um acordo para construir a então maior hidrelétrica do mundo, o trecho do rio Paraná entre os municípios de Foz do Iguaçu e Guaíra, no Paraná, se transformou em um gigantesco lago, o de Itaipu, formado pelo represamento do próprio rio. Com 170 quilômetros de extensão, mais de 1300 km² de área e 16 municípios lindeiros, o Lago de Itaipu é um dos maiores lagos artificiais do Brasil, três vezes maior do que a Baía de Guanabara, no Rio, por exemplo. É um mar de água doce em pleno oeste paranaense. Hoje, 50 anos depois, lindo e cheio de vida, começa a se consolidar como polo de turismo náutico. 

Cinco décadas separam o início da formação do Grande Lago — que permite à Itaipu Binacional abastecer com energia elétrica quase todo o Paraguai e cerca de 25% dos domicílios brasileiros — da geografia atual do oeste paranaense. É quase uma epopeia. A potência da obra da Usina Hidrelétrica acabou gerando uma corrente positiva que refez o mapa da região. 

Novos hábitos foram incorporados pela população dos municípios lindeiros ao Lago de Itaipu (16 do lado brasileiro), com o surgimento de balneários com belas praias, hotéis, pousadas e muitos clubes. Por sua vez, o reservatório — que tem 1350 quilômetros quadrados e um volume de 29 bilhões de metros cúbicos de água — acolheu 147 espécies de peixes, 41 de mamíferos e 223 de aves, como meio de propagação de vida.

Para se ter uma ideia dessa corrente construtiva, quando os presidentes João Batista Figueiredo, do Brasil, e Alfredo Stroessner, do Paraguai, se encontraram, no dia 5 de novembro de 1982, para a cerimônia simbólica de abertura das comportas do vertedouro da Usina Hidrelétrica de Itaipu (que só seria inaugurada para valer em 1984), Foz do Iguaçu era uma cidadezinha de fronteira, com 30 mil habitantes. A única beleza eram as distantes Cataratas do Iguaçu. Hoje, é uma cidade pujante, com economia diversificada, com atrações que vão bem além do fascinante conjuntos de quedas d’água, e recebe a visita de 2 milhões de pessoas todo ano, o que representa quase sete vezes a quantidade de moradores, que atingiu 295.500 em 2024, segundo o IBGE.

Foto: Victor Santos

As lindeiras (como são chamadas as cidades à beira do lago), que tiravam sua renda basicamente da agricultura e da criação de aves e porcos — com exceção de Guaíra, que vivia do turismo gerado pelas Sete Quedas — transformaram-se em destinos turísticos, cada uma com encanto próprio para oferecer, e tiveram sua economia reforçada pelos royalties da Itaipu Binacional.

Em nome das águas que usa para gerar energia, a Itaipu Binacional investe há anos em programas que mudaram a paisagem de sua bacia. Corrigiu o leito das estradas rurais, para evitar que elas carreguem as enxurradas para dentro do reservatório. Arrumou os declives em curvas de nível, para acabar com as voçorocas que assoreavam o lago. Introduziu na região novas técnicas de cultivo, para evitar o costume de arar o terreno a cada plantio. Promoveu a agricultura orgânica, para diminuir o consumo de venenos e fertilizantes.

Agora, por meio do Parque Tecnológico de Itaipu (Parquetec) — que cada vez mais volta os olhos para o potencial turístico desse mar de água doce —, arquiteta planos para transformar o Lago de Itaipu em um distrito náutico, com o qual pretende impulsionar o turismo, a pesca esportiva e as atividades náuticas de lazer na região, garantindo, ao mesmo tempo a preservação ambiental.

Foto: Divulgacao Guaíra

Pérolas do lago: as cidades lindeiras

O Lago de Itaipu é rodeado por 16 cidades lindeiras, que oferecem uma diversidade de atrações e experiências. No Paraná, as 15 cidades às margens do lago, do extremo sul ao norte, são: Foz do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu, Medianeira, Itaipulândia, Missal, Diamante do Oeste, Santa Helena, São José das Palmeiras, Entre Rios do Oeste, Pato Bragado, Marechal Cândido Rondon, Mercedes, Terra Roxa e Guaíra. Já no Mato Grosso do Sul, a cidade lindeira é Mundo Novo. Neste guia, apresentaremos essas cidades em ordem, destacando seus principais pontos turísticos e atividades ao redor do lago.

As praias do lago: mudança na paisagem

Uma das transformações mais importantes nos municípios lindeiros (e que fizeram deles destinos muito procurados no oeste paranaense) foi a formação de inúmeras praias fluviais. Sim, praias, de águas limpíssimas. Com o apoio da usina, a prefeituras passaram a investir em estruturas de lazer e turismo. Em quase todas essas cidades foram criados parques, com quiosques, churrasqueiras, áreas de camping, quadras esportivas, trilhas para caminhada, espaços para shows, academias ao ar livre e balneários com praias nas bordas do lago. O sucesso é tão grande que, em alguns desses balneários, é normal um fluxo de até 15 mil pessoas em um fim de semana ensolarado. 

Foto: Victor Santos
Foto: Divulgacao Guaíra

A festa dos pescadores

A pesca, sobretudo a esportiva, na qual as duas principais características são o uso de iscas artificiais e a devolução à água dos peixes capturados, é a atividade náutica mais popular no grande Lago de Itaipu. Além do indispensável banho no lago, os lagoitaipuenses se divertem com competições de pesca esportiva, que tem o tucunaré, como peixe mais desejado — tanto azuis quanto amarelos, podendo pesar até três quilos. As corvinas também são muito presentes. Chama atenção o número de torneios de pesca organizados pelas diversas cidades da beira do lago. Há um calendário de eventos, que vai de fevereiro a dezembro, com torneios que chegam a reunir mais de 500 pescadores nas etapas mais concorridas. A atual estrutura náutica para os pescadores nas cidades localizada à beira do lago, aliás, ainda é apenas modesta, com muitas rampas de acesso ao lago e alguns poucos píeres. Praticamente cada cidade na beira do lago possui uma entidade ou associação de pesca esportiva. Embora o lago ofereça tucunarés o ano inteiro, os maiores volumes acontecem entre setembro e novembro, quando os peixes se reúnem em cardumes para a piracema — que, no caso do tucunaré, não implica em proibição de pesca. Mas, de abril a agosto, as frentes frias costumam comprometer um pouco as pescarias.

O canal dos peixes

Para não interferir na piracema, época em que as espécies nativas, como o pintado, o dourado, a piapara e o surubi, sobem o rio Paraná para desovar, a usina de Itaipu criou um canal específico para os peixes “escalarem” a gigantesca barragem. O canal tem dez quilômetros de extensão e liga o lago ao rio, com um desnível que chega aos 120 metros de altura. Mas, fora da época da piracema, o canal é usado para vibrantes competições de canoagem.

Foto: Divulgação

Terra das areias

Além dos muitos barcos de pesca, as embarcações mais frequentes no Lago de Itaipu são as grandes chatas carregadas de areia, empurradas por rebocadores. Elas vêm de Guaíra, na ponta norte do lago, e abastecem especialmente a construção civil na região de Foz do Iguaçu.

Dica de navegação de quem conhece

Embora não sejam exatamente transparentes, por conta da fartura de nutrientes, as águas do lago são extremamente limpas. Contudo, mesmo após cinco décadas submersas, muitas árvores que ficaram debaixo d’água quando o Lago de Itaipu foi criado ainda estão em pé e afloram na superfície, criando atenção à navegação. Ao navegar próximo às margens do lago, fique atento.

Foto: Victor Santos
Foto: Divulgacao Guaíra

Vida nova ao redor do lago

Os royalties pagos pela Itaipu Binacional permitiram que os municípios lindeiros construíssem e reformassem escolas, equipassem seus postos de saúde e renovassem suas frotas de veículos, entre outras conquistas. Permitiu também que ocupassem as margens do lago de Itaipu — que têm 1.395 quilômetros de extensão no lado brasileiro e 1.524 quilômetros no lado paraguaio —, formando parques e balneários fluviais, hoje uma grande atração turística da região Oeste do Paraná. Em grande parte desses municípios, a estrutura de lazer conta com praias (de águas limpíssimas, quiosques, churrasqueiras, áreas de camping, quadras esportivas, trilhas para caminhada, espaços para shows e academias ao ar livre. O sucesso é tão grande que, em alguns desses balneários, é normal um fluxo de até 15 mil pessoas num fim de semana ensolarado.